A infância de Johnny Paulistano – Parte 2
Como toda criança, Johnny queria mais sair correndo e aproveitar as férias em seu mundo secreto. Mas o que ele não sabia é que, naquele verão, as coisas iriam mudar.
O irmão mais velho de Johnny, Tony, tinha vários amigos desde quando moravam em São Paulo. E, diferentemente de Johnny, por onde passava Tony fazia amigos.
Os dois eram como óleo e água, não se misturavam e eram o oposto um do outro.
Um muito falador, extrovertido e fazendo sempre amizade (Tony) e o outro… bem, o outro era Johnny.
Mas naquele verão algo diferente aconteceu que mudou a relação entre os dois irmãos para sempre.
Johnny Paulistano era fechado, calado, tímido e, na escola, ficava sozinho com seus pensamentos. Mas quando tinha liberdade para brincar e se divertir, era uma criança bem difícil de segurar.
Durante os momentos de lazer, Johnny compensava todos os problemas que tinha para se socializar e, até, se desligava do seu mundo particular em troca de uma boa dose de adrenalina.
Pois é, Johnny só tinha pinta de bonzinho. No fundo, ele queria mesmo era aventura e talvez esse fosse o motivo de ter tantos problemas para se concentrar e manter a atenção na sala de aula, pois se sentia como um pássaro preso na gaiola e ficava imaginando a aventura que o aguardava lá fora.
Então Johnny saiu para caminhar junto com Tony e um amigo de Tony. Quando chegaram num certo ponto da caminhada, Johnny resolveu pegar sua bicicleta, sem freios, e descer o morro mais íngreme da região.
Você precisava ver a cara de felicidade daquele menino durante a descida. Ele sentia o vento no rosto e a adrenalina correndo pelas suas ventas. Uma sensação que, para Johnny, não tinha preço e que nunca havia sentido com tamanha intensidade, antes de sair de São Paulo.
Mas nem tudo são flores. No fim da descida, havia um buraco que travou a roda da frente de sua bicicleta e o fez voar por alguns metros. O que poderia parecer apenas 1 ou 2 segundos para quem via a cena, para Johnny foi bem mais que isso.
A sensação de descer a colina com uma bicicleta sem freios nem se comparava à sensação de voar por sobre a terra. Mesmo que, no final do trajeto, ele fosse cair e se machucar todo, engolindo terra e ainda sendo atingido na cabeça pela bicicleta que vinha se batendo por causa da velocidade com que desceu o morro.
Quando Johnny se levantou, todo machucado e tremendo de medo de ter quebrado algum osso do seu corpo, ele teve um grande espanto. Seu irmão Tony havia assistido a sua tentativa de “super-homem” e ficou muito procupado, por isso, voltou para socorrer o irmão.
O amigo de Tony levou sua bicicleta e Tony levou Johnny para casa em seus braços.
Felizmente, nada de grave aconteceu a Johnny. Naquele dia, ele aprendeu algumas lições que só quem vive pode reconhecer: nunca ande numa bicicleta sem freios, o homem não foi feito para voar e, o mais importante, seu irmão se preocupava com ele, mesmo que não demonstrasse no dia a dia.
Seus pais os ensinaram a agradecer a Deus por mais um dia de vida, todos os dias pela manhã, quando acordavam. Então, naquele dia Johnny agradeceu, não só pela vida ou pela proteção, mas também pela família que Deus lhe dera.
Quando chegou o fim das férias, Johnny estava um pouco diferente, pois havia aprendido que seu mundo imaginário era só imaginário mesmo.
Ao chegar à escola para a volta às aulas, Johnny aprendeu mais uma lição. Ele queria encontrar a garota que havia prendido sua atenção antes do verão. Mas para sua decepção, Carla já não estudava mais na mesma escola que Johnny.
O mais espantoso é que essa notícia não abalou o garoto, ao invés de desanimar, ele resolveu arriscar e se enturmar. Afinal, a oportunidade de conhecer alguém como Carla ele não queria mais perder.
Autor: Charles B. Rock