O sentir do poeta

O sentir do poeta

Não gosto de frasear correndo, Com o pensamento no dedo E a caneta no travesseiro. Prefiro espremer a memória, Destilar a essência, a glória, Consumir litros e quilos de ideias, Não ficar marcada na prateleira. Eis que um som ondulado Faz sua morada na minha imaginação, E assim vai dançando, Percorrendo sonetos, poesias e poemas. O sentido pode não estar claro – clara mesmo é a luz difusa No fim do saber, do compreender. Faz…

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O menino e o livro

O menino e o livro

Deixaram poemas ao léu, largaram horas perdidas atrás de lembranças passadas. Depois quiseram voltar. O dia calou em negrito e recolheu-se altivo e sossegado. Não puderam notar os tons descendentes de um novo poente. Era o momento de êxtase. Em fora, reinava a paz, o silêncio tomou conta de tudo, o vento parou de soprar. Ao longe, um menino lia um livro, histórias – de outros meninos – criadas com o desejo de mostrar o…

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O lamento da rua

O lamento da rua

A rua esconde seu sorriso e se sente traída: perdeu o meio-fio pintado de cal. Deram passagem às marretas, às escavadeiras e aos guindastes. Sem entender toda a trama, a rua se inquieta e lamenta – suspira fundo de se ter dó. Suas companheiras frondosas desalinhadas percebem que vão ficar órfãs de pai, de mãe, de amiga. Será um luto malquerido, desses sem caixão nem defunto. Choro vai acontecer, quem sabe dos céus, que se…

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O que somos?

O que somos?

Somos folhas, somos flores, somos restos de terra, chão lavado pelo rio, somos extremos no horizonte? Do que somos formados, com que formas tão diversas? Somos seres dispersos no imenso gelo da palidez, em que vão tantos anseios e reflexos de horas a fio deslizantes entre a fronteira do céu. Somos pequenos e numerosos, voláteis, etéreos, incógnitos, vestidos da névoa do tempo. Temos emoção e lucidez entre os meio-termos da precisão. Vivemos vibrantes na imensidão…

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Estrada

Estrada

Esta estrada que me cerca É uma floresta sem fim, A ponta do iceberg, Um vaso cheio de jasmins. Está bem diante de meus passos, Onde árvores se defrontam uma a uma E com seus galhos imensos Fecham em copa esta estrada. Galhos retorcidos, envelhecidos, Uma harmonia pitoresca, dantesca. Esta estrada que me rodeia Faz-me sentir meio alheia. Ela se estira pelo outeiro. Suportando folhas, flores e frutos. Quando passa por ela a ventarada, Coloca…

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Dias

Dias

Os dias são dias, Dias hoje, dias ontem, Sempre dias, todos os dias, Com mais dias a chegar. Vêm de dia os dias, E dia e noite, noite e dia, Com tantos dias a definir. Como os dias que são dias Levam dias a existir? Quem mais dias faz os dias Quer os dias sem adiar. Cabe ao dias decifrar Os enigmas dos dias a findar. Dia e noite, noite e dia, Todos os dias…

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Depois de Amanhã

Depois de Amanhã

depois de amanhã volto sem querer sair depois de amanhã passa rápido como trovão vejo   salto   penso o ar vazio o grito aturdido depois de amanhã acordo sonolento    vagante oscilação pendente vejo    salto    penso horas na chuva depois de amanhã será outro dia a mais palavras esquecidas soletradas pulsantes depois de amanhã não parto isolado espero Autora: Marcela de Baumont Ficha técnica de Marcela de Baumont: Formada em 1976, pela UFRGS, na Faculdade de Comunicação…

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Chuva silenciosa

Chuva silenciosa

Mechas cambaleiam granito negro, ar frio Respingos ofegantes (vapor na calçada) cheiro de cachorro-quente Corrida noturna de ciclistas Um pequeno cachorro sonolento deita-se no jardim Autora: Marcela de Baumont Ficha técnica de Marcela de Baumont: Formada em 1976, pela UFRGS, na Faculdade de Comunicação Social, é bacharel em Jornalismo, Relações Públicas, Propaganda e Publicidade. Exerce a atividade de revisora desde a faculdade, na Editora e Gráfica da UFRGS, e também para escritores de livros e…

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BATOM

BATOM

– O que fazes aqui, neste canto escuro, jogado sem importância nem valor, pois devias estar aformosando a dama com seus lábios carnudos e viçosos? – Amigo, armário, bem sei que tens razão e que esquecido sou neste pedaço sem visão. Minha dama me trocou pelo mais recente lançamento de batom. E fiquei aqui, deprimido, solitário, querendo que ela lembrasse, com certeza, que a minha cor era apreciada e que ela, faceira na janela, muitos…

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Ciclo da natureza

Ciclo da natureza

Toda hora tem seu brilho, seu momento, o apogeu do pensamento. E já passa um minuto desatento, sem que se execute um solfejo, sem que se ouça um sustenido. A melodia vibra entre as notas e embala noite e dia… O chafariz se exibe em sua dança de águas a refrescar os peitoris. E no oculto ciclo da natureza, aparece o sorriso de um rio, que se maquia de barro, de folhagens, a deslizar livre…

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